segunda-feira, 7 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher...






Que um sorriso nunca deixe de iluminar o nosso rosto...




História do 8 de Março

 
Dia Internacional da Mulher

No dia 8 de Março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte americana de Nova Iorque, entraram em greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.

A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente
130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano.

Porém, somente no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de Março passaria a ser o
"Dia Internacional da Mulher", em homenagem às mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas). 


Objectivo da Data

Ao ser criada esta data, não se pretendia apenas comemorar. Na maioria dos países, realizam-se conferências, debates e reuniões cujo objectivo é discutir o papel da mulher na sociedade atual. O esforço é para tentar diminuir e, quem sabe um dia terminar, com o preconceito e a desvalorização da mulher. Mesmo com todos os avanços, as mulheres ainda sofrem, em muitos locais, com salários baixos, violência masculina, carga horária excessiva e desvantagens na carreira profissional. Muito foi conquistado, mas muito ainda há para ser modificado nesta história.






)

Mulheres

Elas sorriem quando querem gritar.
Elas cantam quando querem chorar.
Elas choram quando estão felizes.
E riem quando estão nervosas.

Elas brigam por aquilo que acreditam.
Elas levantam-se para injustiça.
Elas não levam "não" como resposta quando
acreditam que existe melhor solução.

Elas andam sem novos sapatos para
suas crianças poder tê-los.
Elas vão ao medico com uma amiga assustada.
Elas amam incondicionalmente.

Elas choram quando suas crianças adoecem
e se alegram quando suas crianças ganham prêmios.
Elas ficam contentes quando ouvem sobre
um aniversario ou um novo casamento.
(Pablo Neruda)


Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que rí e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
(Florbela Espanca)


A Mulher


Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosa duma imagem.
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca rir alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doce alma de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!

( Florbela Espanca)



Para que não esqueçamos...






O que é violência doméstica ?



Segundo a “APAV”, Associação Portuguesa de apoio à Vítima, violência doméstica é qualquer conduta ou omissão de natureza criminal, reiterada e/ou intensa ou não, que inflija sofrimentos físicos, sexuais, psicológicos ou económicos, de modo directo ou indirecto, a qualquer pessoa que resida habitualmente no mesmo espaço doméstico ou que, não residindo, seja cônjuge ou ex-cônjuge, companheiro/a ou ex-companheiro/a, namorado/a ou ex-namorado/a, ou progenitor de descendente comum, ou esteja, ou tivesse estado, em situação análoga; ou que seja ascendente ou descendente, por consanguinidade, adopção ou afinidade.
A violência exercida entre pessoas do mesmo sexo no seu relacionamento também está englobada neste conceito.
Esta definição implica a referência a vários crimes, nomeadamente: o de violência doméstica; o de ameaça; o de coacção; o de difamação; o de injúria; o de subtracção de menor; o de violação de obrigação de alimentos; o de violação; o de abuso sexual; o de homicídio; e outros.
Actualmente o Código Penal já consagra expressamente (no art. 152º - Violência Doméstica) que existe crime de violência doméstica quando existam "maus tratos físicos e psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais (...) a pessoa de outro ou do mesmo sexo" com quem o agressor "mantenha ou tenha mantido uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem habitação".
Para além deste artigo específico, a lei também criminaliza, por exemplo, as ameaças, a coacção, a difamação, as injúrias, a subtracção de menor, a violação de obrigação de alimentos, a violação, o abuso sexual e o homicídio ou tentativa de homicídio.
Segundo o Conselho da Europa a violência doméstica contra as mulheres no espaço doméstico é a maior causa de morte ou invalidez (directa e indirecta) entre as mulheres dos 14-44 anos, ultrapassando o cancro e acidentes de viação, com consequências sociais muito graves.
A polícia tem a missão e a obrigação de proteger e ajudar todas as vítimas de crime. A polícia portuguesa, sobretudo na última década, tem vindo a desenvolver um grande esforço nesse sentido. A APAV também pode apoiar nesse contacto.


Mulheres vítimas de violência doméstica




O número de queixas de mulheres, vítimas de violência doméstica, tem vindo a aumentar nos últimos anos. Tal facto, resulta não apenas pela apresentação de queixa pela vítima mas, também, pela denúncia desta situação por parte de terceiros. A consciencialização da comunidade em geral para este atentado aos direitos humanos contribuiu para que este assunto seja tema actual em todos os contextos da sociedade.
O ditado “entre marido e mulher não se mete a colher” deixou de ter sentido e parece estar a ser ultrapassado pela sociedade portuguesa. Actualmente, família, amigos ou vizinhos mobilizam-se para enfrentar o problema que se vive em muitas casas.
Na década de 90, em Portugal, de acordo com um estudo, uma em cada três mulheres era ou tinha sido vítima de violência doméstica.


Números da violência doméstica em 2007



 21 907 vítimas procuraram ajuda na GNR e PSP;
 14 534 queixas de violência doméstica registadas na APAV;
 21 mulheres assassinadas e 57 tentativas de homicídio (UMAR).


A revisão do código penal, nomeadamente o fim da prisão preventiva, faz com que as vítimas percam a confiança de que podem e devem denunciar.
Após denunciarem a situação, e se não houver marcas da agressão física, o que as autoridades fazem é, somente, chamar a atenção do agressor. As vítimas continuam expostas à violência e a única alternativa que lhes resta é a de abandonarem os lares, uma vez que o agressor continua a permanecer a, deixando para trás todo um passado de situações penosas mas, também, abdicando de conviver com os objectos que até aí constituíam parte da sua identidade e que contêm grande carga emocional. Muitas vezes a desmotivação da vítima leva-a à acomodação aos problemas.
A dificuldade de acesso a serviços com capacidade de resposta adequada a esta questão pode contribuir para prolongar estas situações, para além do olhar estigmatizante da sociedade face a estas famílias.


Um agressor será sempre um agressor


Não existe um perfil traçado nem de agressor nem de vítima; São de todas as idades e atingem qualquer estrato sócio-económico. No entanto, os agressores apresentam comportamentos semelhantes. Eles acham-se donos das suas mulheres porque as escolheram, as seduziram e elas têm que fazer o que eles desejam. A mulher é encarada como um objecto de desejo, um objecto de posse.
Depois da violência, vem a “chantagem emocional”. Ao “não sei viver sem ti” ou “ninguém te amará tanto como eu”, segue-se a ameaça do “se não és para mim não és para mais ninguém”.

Um agressor é sempre um agressor. Ele bate, humilha, prende, tira dinheiro, viola. A vulnerabilidade da vítima perante o agressor deve-se, sobretudo, ao facto de as mulheres quererem ser perfeitas e, como acham que não o são, passam a vida a culpabilizarem-se. Normalmente, esta situação perpetua-se porque a vítima não possui suporte económico nem psíquico que lhe permita sair desta situação. Para além disso, coloca sempre o bem-estar dos filhos em primeiro lugar, julgando que se estes continuarem a viver no seio familiar que, apesar de tudo, lhes proporciona alguma estabilidade é mais importante do que os sujeitar a mudanças incertas. Tal visão é errónea, uma vez que estes sofrem, directa e indirectamente, com tudo o que se vive no ambiente familiar. A mãe, que permite o alongar desta situação vai perder, a longo prazo, o respeito dos seus filhos e contribuirá para que estes desenvolvam uma predisposição para a violência: no futuro poderão ser eles os agressores.

As consequências da violência doméstica afectam mulheres em todo o mundo, independentemente das diferenças culturais, religiosas ou sociais. Uma vítima de violência doméstica pode ter perturbações a nível cognitivo, de concentração e de memória. É o denominado “Síndrome da Mulher Abusada”. Estas vítimas levarão anos a encontrar o seu equilíbrio e a encontrar-se a si próprias e é contra tudo isto que temos de lutar, fomentando novas formas de comportamento quer no agressor mas, e primordialmente, na ajuda ao reequilíbrio da vítima.


Como elemento fulcral a família assume um lugar de destaque visto que, a mulher necessitará de um forte e sustentável suporte familiar para alcançar a sua estabilidade psicológica e recupere o seu equilíbrio emocional. Assim, a família deve ser “chamada” a intervir, transmitindo à vítima todo o apoio na sua decisão, o que contribuirá, certamente, para que esta recupere a sua estabilidade e independência. (Celeste Rebordão)






Hoje, depois de 152 anos, as mulheres são as grandes protagonistas das mobilizações populares contra os regimes autocráticos dos países árabes. “As mulheres foram e continuam sendo protagonistas das revoluções da região e estão física e maciçamente presentes nas ruas, o que é fundamental”, avalia Nadim Hury, pesquisador da organização de defesa dos Direitos Humanos, Human Rights Watch (HRW).

Usando camisetas, calças jeans ou os tradicionais trajes negros, milhares de mulheres participaram nas manifestações na Tunísia, Egito, Iêmen e Bahrein contra os regimes desses países. “É um sinal de esperança”, acrescentou, enfatizando que as mulheres também “deverão ser protagonistas nas novas instituições que nascerem dessas revoluções”.

No Bahrein, onde milhares de manifestantes reclamam a queda da dinastia dos Al Khalifa, as mulheres se manifestaram com suas tradicionais abayas, formando uma massa negra em meio à multidão, já que homens e mulheres caminham separadamente.

Em países como a Líbia ou Iêmen se expuseram e foram destaques em meio as câmeras: “As mulheres tiveram um importante papel no início da revolução”, afirmou Tawakul Karman, uma militante iemenita contrária ao presidente Ali Abddullah Saleh.

“A revolução procura derrubar o regime, mas também permitiu superar tradições arcaicas, como o fato de que as mulheres tenham que permanecer em suas casas sem participar na política”, acrescentou. “A revolução também é social. O papel que têm as mulheres permite criar uma nova sociedade”.

Na Arábia Saudita, onde, por ora, não houve uma manifestação em massa, começam a aparecer na internet expressões femininas contra o regime. “Peço às sauditas que atuem agora mesmo. Nossos irmãos sauditas nos traíram porque são uns covardes”, afirma a SaudiWomenRevolution.

Apesar de não se saber como ficarão configurados os futuros sistemas políticos na região, os levantes revelam um descontentamento político, mas também social, enfatizam os analistas.




Fawfia Koofi

Candidata presidencial afegã Fawzia Koofi


"A liberdade é a minha única proposta política"


Fawzia Koofi, 35 anos, deputada e candidata às presidenciais do Afeganistão em 2014, trocou Cabul por Lisboa para apresentar o livro que escreveu a partir das cartas que deixava às filhas, de 12 e 10 anos, sempre que saía em campanha sem saber se voltava.

"Liberdade e justiça, coisas básicas e essenciais. Nada de trascendente ou irrealista. Não estou aqui para mudar o Mundo nem mesmo o país. Este tem de mudar por si e ao seu ritmo, mas é com pequenos passos que se faz a diferença e é neles que assenta a minha proposta de intervenção... Elaborei uma lista de violências contra as mulheres que não se esgotam na violência doméstica de marido para mulher mas também na do pai para a filha quando insiste num casamento arranjado com alguém do seu meio, apenas para manter o estatuto social e a tradição... Um casamento legal tem de ser livre. A liberdade é a minha única proposta política. O resto vem por acréscimo." Entrevista ao Correio da Manhã


"Até no dia em que nasci esperavam que morresse. Afinal eu era “apenas uma rapariga”…





Minhas queridas filhas,

Hoje vou tratar de assuntos políticos em Faizabad e Darwaz.
Espero regressar a casa em breve, mas tenho de vos avisar de que isso pode não acontecer.
Ameaçaram matar-me nesta viagem.
Quero que saibam que tudo o que faço é para que vocês sejam livres de viver as vossas vidas e de sonhar os vossos sonhos. Se me matarem e não voltar a ver-vos, quero que se lembrem disto.
Sejam corajosas. Não tenham medo de nada na vida.
Hoje pode ser o dia da minha morte. Se isso acontecer, por favor, pensem que servi um propósito. Sintam sempre orgulho em tentar ajudar as pessoas e fazer do nosso país e do nosso mundo um lugar melhor.

Um beijo para as duas.

Amo-vos.

A vossa mãe


Mulher, mãe, deputada e candidata às eleições presidenciais do Afeganistão, Fawzia viu o pai e o marido morrerem lutando por um país melhor. Essa luta é também a sua. Mas, tal como eles, ela é um alvo a abater. Cada uma das cartas que escreve às suas filhas nasce do receio de não as voltar a ver mas também da esperança num futuro melhor.





Calçada de Carriche


Luísa sobe,

sobe a calçada,

sobe e não pode

que vai cansada.

Sobe, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe

sobe a calçada.



Saiu de casa

de madrugada;

regressa a casa

é já noite fechada.

Na mão grosseira,

de pele queimada,

leva a lancheira

desengonçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



Luísa é nova,

desenxovalhada,

tem perna gorda,

bem torneada.

Ferve-lhe o sangue

de afogueada;

saltam-lhe os peitos

na caminhada.

Anda, Luísa.

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



Passam magalas,

rapaziada,

palpam-lhe as coxas,

não dá por nada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



Chegou a casa

não disse nada.

Pegou na filha,

deu-lhe a mamada;

bebeu da sopa

numa golada;

lavou a loiça,

varreu a escada;

deu jeito à casa

desarranjada;

coseu a roupa

já remendada;

despiu-se à pressa,

desinteressada;

caiu na cama

de uma assentada;

chegou o homem,

viu-a deitada;

serviu-se dela,

não deu por nada.

Anda, Luísa.

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



Na manhã débil,

sem alvorada,

salta da cama,

desembestada;

puxa da filha,

dá-lhe a mamada;

veste-se à pressa,

desengonçada;

anda, ciranda,

desaustinada;

range o soalho

a cada passada;

salta para a rua,

corre açodada,

galga o passeio,

desce a calçada,

desce a calçada,

chega à oficina

à hora marcada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga;

toca a sineta

na hora aprazada,

corre à cantina,

volta à toada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga.

Regressa a casa

é já noite fechada.

Luísa arqueja

pela calçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada,

sobe que sobe,

sobe a calçada,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.
(António Gedeão, 'Teatro do Mundo' )



A mulher e a mudança social


Desde sempre que as mulheres acumularam funções de companheiras, esposas, mães, donas de casa, conjugando estes papéis com o trabalho nos campos, nas fábricas, no exercício de diversas profissões no âmbito das artes e ofícios mas, também, nas Ciências, Cultura e na Religião. No entanto, a falta de visibilidade do seu trabalho, quer na esfera doméstica quer noutros contextos, fez com que esse não tenha sido valorizado e reconhecido em diversas épocas da História.
Basta lembrar-nos das nossas avós e vemos que foram grandes mulheres, que se dedicaram de corpo e alma a cuidar dos filhos e da família, aliando a este trabalho cansativo, o trabalho do campo, conciliando-as com o papel de esposas obedientes, cumprindo as suas obrigações no seio do casal.
Com a Revolução Industrial, no século XIX, a mulher passou a trabalhar nas Indústrias Manufactureiras, e outras, em troca de um salário digno para poder dar melhores condições de vida ao seu agregado familiar. As tarefas executadas netas fábricas roçavam os limites da escravatura, com horários muito alargados que em nada dignificavam as mulheres. Realizavam trabalhos que os homens não queriam efectuar em troca de salários mais reduzidos e que não lhes atribuía estatuto social. Autores como Louis René Villermé (1840) e Frederich Engels (1845), deram voz a esta problemática das condições do operariado na França na Inglaterra do Pós-Revolução Industrial, dano grande destaque às condições das mulheres e crianças nas fábricas.
A 8 de Março de 1857, operárias de uma fábrica de têxteis em Nova Iorque, realizaram a primeira greve reivindicando a redução do horário de trabalho, que era de dezasseis horas diárias. Insurgiram-se, ainda, contra o facto de os seus salários serem inferiores num terço em relação aos dos homens. Nessa luta, cento e trinta mulheres perderam a vida no decorrer de um incêndio que deflagrou no interior da fábrica. É em memória destas mulheres, e de outras, que lutaram por direitos de igualdade e de dignidade que todos os anos, neste dia, se comemora o Dia Internacional da Mulher.
A Segunda Guerra Mundial empurrará a mulher para o mercado de trabalho devido à mobilização dos elementos do sexo masculino para as frentes de batalha. Por quase toda a Europa, muitas mulheres têm de trabalhar fora de casa para prover o sustento da família. As fábricas de armamento empregam essencialmente mulheres, assim como as indústrias de têxteis que se dedicam ao fabrico de fardamento.
Quando o conflito termina, há uma recomposição das sociedades numa vertente mais tradicionalista, devido à necessidade de fomentar emprego aos homens regressados da Guerra, empurrando as mulheres novamente para a esfera doméstica. No entanto, seria nos anos cinquenta que iriam ser dados os primeiros passos para as mudanças nas mentalidades, reflectindo-se estas nos anos seguintes a nível das conquistas das mulheres de direitos cívicos, políticos e sociais.
Em Portugal, será só após o 25 de Abril de 1974, que passam a ser garantidos direitos iguais para todos, sem distinção de género, etnia ou religião. Valores esses que estão consagrados na Constituição de 1976. Estes direitos, hoje considerados como adquiridos, possuem apenas trinta e cinco anos de história em Portugal. Actualmente, o nosso país é reconhecido pelas boas práticas a nível das políticas de Igualdade de Género.
Com a chegada dos regimes democráticos à Europa, chegaram a Portugal os valores republicanos, aos quais estão associados os direitos individuais, a participação cívica e o direito à educação. A vida das mulheres começa a alterar-se, gradualmente. O século vinte é marcado pela entrada das mulheres na vida pública. As ideias republicanas vieram permitir que as mulheres começassem a ocupar cargos e a exercer profissões que até aí lhes estavam vedadas. Passam a ter o direito de trabalhar na função pública, de exercer medicina e advocacia.
Entre 1926 e 1933 assiste-se a um período de suspensão das liberdades da Constituição implementadas na 1ª República com a instauração da Ditadura Militar.
Durante o Estado Novo, o homem continuou a ser considerado o chefe de família, com plenos poderes sobre a vida do casal e dos filhos. A imagem defendida pela ideologia doutrinária do regime fez com que, sob a capa de protecção às mulheres, estas fossem remetidas para o lar, reservando ao homem o mercado do trabalho. Foi proibido às mulheres o exercício de profissões na administração pública, na diplomacia e na magistratura, entre outras.
No início dos anos sessenta, ainda era possível ter contacto com a imagem tradicional da mulher. No final desta década, as mulheres só podiam votar quando eram chefes de família e possuíssem cursos médios ou superiores. No caso das mulheres casadas, a obtenção de um passaporte dependia da autorização do marido, como deste dependia a possibilidade de montar um negócio, de sair do país ou de abrir uma conta bancária.
Com a adesão de portugal à EFTA, no final dos anos cinquenta, e com a entrada de capitais estrangeiros, o que permitiu um acentuado desenvolvimento das indústrias nacionais, Portugal modificou-se profundamente. Algumas mulheres encontraram trabalho nestas empresas mas o seu trabalho era, essencialmente, doméstico ou agrícola, muitas vezes não remunerado. Na década de sessenta, houve um acentuar da emigração. Com a saída do elemento masculino para o estrangeiro, coube à mulher decidir as questões ligadas à família. O seu papel começou a alterar-se e a sobressair no contexto social. Alimentado pelas notícias que os emigrantes traziam, estimulado pelas séries que a RTP começara a importar, invadido por turistas com hábitos estranhos, o país saía, por fim, da letargia. Quando em 1968 Salazar caía da cadeira, os valores que tentara inculcar estavam moribundos.
Em 1968, perante a impotência paterna, as meninas urbanas saíam e entravam em casa às horas que lhes apetecia. Nas farmácias vendia-se a pílula livremente. As mulheres declaravam que queriam trabalhar. À medida que as criadas de servir desapareciam, o número de filhos decrescia. Em 1971, as alterações ocorridas na sociedade reflectiam-se nos anúncios de pessoal doméstico. Arranjar uma criada começava a ser difícil. Antes as mulheres trabalhavam quase a troco de alojamento e alimentação mas agora, devido à emigração e à alteração de valores, a situação invertia-se. Os ordenados subiram em flecha. As raparigas usavam minissaias e os rapazes calças à boca-de-sino. A mobilização de jovens do sexo masculino para o ultramar, abriu “espaços à integração no mercado de trabalho, contribuindo em especial para uma elevada taxa de feminização na Administração Pública, muito embora, a diplomacia e a magistratura (bem como as polícias e as forças armadas) lhes continuassem vedadas e o direito de voto só pudesse ser exercido sob certyas condições”. (Concello et.al.2003:p.92)
Após a revolução de 1974, alguns grupos de mulheres começaram a reivindicar o fim da lei que despenalizava o aborto mas só em 1984 a lei que despenalizava o aborto num certo número restrito, passou. Com a Constituição da República Portuguesa de 1976, os valores democráticos definem-se. A igualdade de género, a igualdade de oportunidades, a igualdade no acesso à educação, entre outros, transformaram profundamente a vida das mulheres. O divórcio legalizou-se.
Nas últimas três décadas, Portugal mudou para além do que se julgara possível. A mobilidade social dos anos recentes é evidente. A mulher entrou em força no mercado de trabalho, em cargos cada vez mais destacados, devido à aposta na educação e na qualificação.
Actualmente, a mulher trabalha fora de casa e partilha responsabilidades no sustento da família. A família teve de se ajustar aos novos contextos familiares e sociais. (Celeste Rebordão)

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